As moscas e o inverno
INFORMATIVO TÉCNICO: 026/23 CMCONSULAB – DALPER Responsavel Técnica: Dra. CRISTIANE MATAVELLI
Você sabia que temperatura, umidade e número de horas de luz por dia são alguns dos fatores que influenciam as populações de moscas? Pois bem, vamos te dar um exemplo: a temperatura é um dos fatores que influenciam diretamente, negativamente ou positivamente, alguns aspectos destes insetos, como a rapidez com que seus indivíduos se desenvolvem, o comportamento, a alimentação, a fecundidade, o alcance da dispersão, a capacidade de se reproduzir e o número de moscas de uma nova geração.
Para que as moscas tenham uma influência positiva, a temperatura deve estar próxima ao que chamamos de "condição ótima", ou seja, quando o desempenho biológico dos indivíduos atinge o seu máximo. Para a maioria dos insetos, estamos falando de uma temperatura ao redor de 25ºC. Quando mais distante deste valor, maior o estresse para estes indivíduos.
Isso porque os insetos são organismos exotérmicos, ou seja, eles não conseguem manter a temperatura de seus corpos dentro de uma faixa ideal de forma autônoma, necessitando usar fontes externas para essa manutenção. Porém, com isso, os seus processos fisiológicos ficam submetidos e se tornam sensíveis à temperatura ambiente.
Pela vulnerabilidade a este estresse, as moscas desenvolveram, ao longo da evolução, mecanismos capazes de perceber estas alterações climáticas e responder a essas mudanças. De uma forma geral, os insetos são capazes de captar sinais do ambiente, como a queda diária da temperatura com a proximidade do inverno e se adequar a estas condições desfavoráveis.
Quando a temperatura diminui, as moscas diminuem também suas respostas fisiológicas e comportamentais e entram em um estado de repouso. Este repouso pode ocorrer na forma de diapausa (que é a supressão do desenvolvimento na fase jovem para que estes insetos consigam atingir a fase adulta após o término das condições desfavoráveis), de quinetopausa (que é a redução da atividade biológica na fase adulta), ou quiescência (uma resposta fisiológica imediata a um fator limitante, retornando de imediato ao normal quando este desaparece). Tudo isso para pouparem as suas reservas durante este período mais frio, até que, com a chegada da primavera, a temperatura aumente novamente e as respostas se reestabelecem a condição normal.
E por que a abundância das moscas diminuem no inverno? Dentre outros fatores, porque estas adaptações biológicas têm como resultados reduções nas taxas metabólicas e no desenvolvimento destes insetos na fase adulta, fazendo o que os adultos sobrevivam menos, tenham uma longevidade mais curta e, tanto o número de ovos quanto a viabilidade deles sejam reduzidos. Quando falamos em Musca domestica por exemplo, as baixas temperaturas influenciam principalmente a sobrevivência dos machos, a qual se mostra bem inferior a das fêmeas; Por estes motivos, visualizamos menos moscas no ambiente neste período, o que não quer dizer que elas desapareceram. Pelo contrário, as moscas aparecerão com tudo na primeira condição climática favorável.
Esta questão da temperatura é tão importante que, alguns pesquisadores mencionam que as intempéries climáticas são mandatórias para se ter um equilíbrio das populações de muscídeos e califorídeos, dois grandes grupos com representantes de moscas de importância médico-sanitária no Brasil.
Considerada um inseto praga, as altas populações de Musca domestica representam um grande problema em nível de saúde pública, pelo alto potencial de veiculação de doenças. Conhecer sua flutuação populacional e a época do ano de maior ocorrência são requisitos indispensáveis para o estabelecimento de um controle racional e um programa de manejo eficaz.
Quando buscamos a prevenção é necessário que o ambiente esteja preparado para quando as moscas reaparecerem em grande abundância. E, para isso, o inverno é a época ideal para rever o seu planejamento de controle, fazer as manutenções nas suas Armadilhas Luminosas Dalper, checar com frequência com que as trocas de lâmpadas e refis adesivos estão sendo feitas, para que se tenha um local seguro e protegido.
Referência bibliográfica:
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tera, Calliphoridae). Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação e Parasitologia da Universidade Federal de Pelotas.
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