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27/01/2023

A microbiota de moscas domésticas e varejeiras como reservatórios perigosos a saúde humana.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Você já ouviu falar sobre microbiota? Pois bem, microbiota refere-se a uma comunidade de microrganismos que colonizam um determinado local. Mas, qual a relação entre microbiota e moscas?

 

Moscas varejeiras e moscas domésticas são insetos que habitam ambientes sinantrópicos e que, por se alimentarem e reproduzirem em matéria orgânica fecal e em decomposição, se tornam hospedeiras de diversos microrganismos. O corpo das moscas passa a atuar como um reservatório e os microrganismos presentes compõem a sua microbiota. Cada espécie de mosca possui uma microbiota particular, já que seus hábitos e comportamentos as expõem a diferentes ambientes. Dentre a composição da microbiota, podemos verificar a presença de alguns microrganismos que são patogênicos, o que classifica as moscas como sendo insetos vetores mecânicos, passíveis de transmitir doenças a outros animais.

 

Nos ambientes urbanos e naturais, estas moscas desempenham um papel importante no transporte e dispersão destes patógenos. As moscas varejeiras e as moscas domésticas são as primeiras a chegarem às carcaças, matéria orgânica em decomposição e fezes para se alimentarem, reproduzirem e colocarem seus ovos. O problema é que elas também chegam aos alimentos consumidos pelos animais e pelo homem e, por transportarem consigo sua microbiota, elas contaminam todos os locais por onde passam, podendo trazer agravos a saúde.

 

As moscas adquirem rotineiramente protozoários, vírus e bactérias do ambiente. Mais de 200 espécies diferentes de microrganismos foram isoladas de moscas domésticas. Uma única mosca pode transportar até 100 patógenos diferentes. Alguns estudos envolvendo microbiota de moscas revelaram que, apesar de ser mais tolerada pela população nos ambientes urbanos, 55% da microbiota encontrada na mosca doméstica é semelhante à das varejeiras, provavelmente por coexistirem em alguns habitats, sendo aquelas com potencial para desenvolver doenças em plantas, animais e humanos. Dos microrganismos identificados nesta microbiota coexistente, os mais importantes incluem os gêneros Enterobacter, Escherichia, Klebsiella, Proteus, Morganella, Hafnia, Pseudomonas, Aeromonas, Acinetobacter e Serratia. Dentre os patógenos humanos, os identificados podem causar intoxicações, infecções ou hipersensibilidade, estando o risco de desenvolver tais quadros associado a suscetibilidade de cada ser humano. Destacam-se Escherichia coli, por ser tipicamente responsável por intoxicações alimentares e infecções gastrointestinais, e Enterobacter cloacae, por desenvolver infecções do trato urinário e respiratório.

 

A microbiota e as diferentes partes do corpo das moscas.

 

Algumas pessoas acreditam que, se uma mosca não ficou tempo suficiente sobre o seu alimento a ponto de conseguir se alimentar dele também, isso significa que ele está “limpo”. Será?

 

Sabemos que as moscas transmitem microrganismos por regurgitação e excreção. A maioria dos estudos envolvendo microbiota, até o momento, investigou o trato gastrointestinal das moscas, sem abordar o papel do corpo também como um reservatório. Para elucidar esta questão, um grupo de pesquisadores estudou a dispersão microbiana de quatro partes distintas do corpo de uma mosca varejeira: cabeça, tórax, abdômen e pernas + asas, investigando a abundância e a diversidade bacteriana em cada uma destas partes. Os resultados indicaram que a maioria dos microrganismos associados às moscas não estão restritos ao seu trato gastrointestinal. Apesar da massa corporal ser pequena, a junção pernas + asas apresentou a maior diversidade de espécies quando comparada as outras partes do corpo, tendo como consequência um papel significativo na dispersão de bactérias de um local para outro quando pousam. Acredita-se que esta diversidade ocorra nesta junção por ter, na somatória, uma maior área de superfície quando comparada as demais partes do corpo. O fato das varejeiras e das moscas domésticas apresentam características anatômicas como cerdas e almofadas faz com que aumentam a adesão de partículas às suas pernas, maximizando esta área de superfície, promovendo a retenção e contribuindo com a dispersão.

 

Respondendo à questão anterior: não. Uma vez que as moscas pousam sobre um alimento, possivelmente, este já se contamina. Além da regurgitação e da excreção, as moscas transmitem microrganismos pelo contato com uma superfície ou ainda durante sua limpeza, quando os desalojam de seu corpo. Das 30 principais espécies bacterianas identificadas em cada uma das quatro partes do corpo da mosca varejeira, a endossimbionte Wolbachia sp. foi detectada em todos os tecidos. A Wolbachia é uma bactéria presente em 60% dos insetos, a qual desempenha uma ação protetora contra vírus. A surpresa do estudo foi a incidência surpreendentemente alta de Helicobacter, que motivou os pesquisadores a explorar mais detalhadamente a presença desse importante patógeno humano no corpo da varejeira.

 

A transmissão de Helicobacter pylori e sua colonização em humanos não são totalmente compreendidos, contudo sabe-se que esta bactéria se aloja no estômago ou intestino, onde prejudica a barreira protetora e estimula a inflamação, podendo provocar sintomas como dor e queimação abdominal, além de aumentar o risco para o desenvolvimento de úlceras e câncer. Estudos de laboratório indicaram que as moscas domésticas podem ser um reservatório alternativo de H. pylori, já que estas sobreviveram no intestino de moscas infectadas artificialmente. No entanto, a presença de H. pylori em moscas capturadas do ambiente natural nunca tinha sido relatada até então. Muito provavelmente, estas moscas adquiriram esta bactéria de locais de esgoto a céu aberto não tratados. Com isso, a presença de Helicobacter spp. na varejeira, mais proeminente nas pernas+asas, pode sugerir que esta seja uma rota potencial de dispersão deste patógeno para humanos e animais.

 

Como vimos, independentemente do tempo de pouso de uma mosca sobre um alimento, o correto é descartá-lo devido ao risco de contaminação e os possíveis agravos que podem acometer a saúde caso alguém faça a sua ingestão. Ademais, pesquisas desta natureza sugerem o estudo das moscas como bioindicadores em programas de vigilância, por serem um elo entre o ambiente (onde uma parte significativa da sua microbiota é adquirida) e a saúde pública, especialmente em áreas povoadas. O estudo da microbiota, se incluído nestes programas, propicia a previsão de potenciais patógenos mediados por esses vetores mecânicos no ambiente e a prevenção da transmissão através de ações que limitam o acesso das moscas a estes locais.

 

FONTE: INFORMATIVO TÉCNICO: IT.023/22 Empresa CMCONSULAB - Responsavel Técnica: Dra. CRISTIANE MATAVELLIReferência bibliográfica: FIOCRUZ. Moscas. http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/moscas.htm. Acesso em 04/07/2022.GEDEN, C.J.; NAYDUCH, D.; SCOTT, J.G.; BURGESS, E.R.; GERRY, A.C.; KAUFMAN, P.E.; THOMSON, J.; PICKENS, V.; MACHTINGER, E.T. (2021). House Fly (Diptera: Muscidae): Biology, Pest Status, Current Management Prospects, and Research Needs. Journal of Integrated Pest Management. 12(1): 39; 1–38.JORNAL DA USP (2022). Bactéria funciona como barreira contra infecção e reduz carga viral em moscas. https://jornal.usp.br/ciencias/bacteria-funciona-como-barreira-contra-infeccao-e-reduz-carga-viral-emmoscas/. Acesso em 04/07/2022.JUNQUEIRA, A.C.M.; RATAN, A.; ACERBI, E.; DRAUTZ-MOSES, D.I.; PREMKRISHNAN, B.N.V.; COSTEA, P.I.; LINZ, B.; PURBOJATI, R.W.; PAULO, D.F.; GAULTIER, N.E.; SUBRAMANIAN, P.; HASAN, N.A.; COLWELL, R.R.; BORK, P.; AZEREDO-ESPIN, A.M.L.; BRYANT, D.A.; SCHUSTER, S.C. (2017). The microbiomes of blowflies and houseflies as bacterial transmission reservoirs. Nature: Scientific Reports. (7): 1-10.NUTMED. Microbiologia dos alimentos I. https://nutmed.com.br/storage/resources/5/2393/Apostila Microbiologia I e II.pdf. Acesso em 29/06/2022.RAFAEL, J.A.; MELO, G.A.R.; CARVALHO, C.J.B.; CASARI, S.A.; CONSTANTINO, R. (2012). Insetos do Brasil: Diversidade e Taxonomia. Ribeirão Preto:

 

FONTE: INFORMATIVO TÉCNICO: IT.023/22 Empresa CMCONSULAB – Responsavel Técnica: Dra. CRISTIANE MATAVELLI