PRODUTO ADICIONADO NA SACOLA DE COMPRAS
Carrinho Vazio
27/01/2023

Populações de moscas e as estações do ano: O caso da Mosca Doméstica

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A Mosca domestica (Diptera: Muscidae) é um inseto que apresenta um alto grau de sinantropismo e, por suas características biológicas, tem um grande impacto na saúde pública. Por utilizar os descartes de matéria orgânica gerados pelo homem como fontes de alimentação e procriação, as moscas são consideradas vetores mecânicos de microrganismos patogênicos e agentes causadores de doenças.

 


Esta necessidade de contato das moscas com matéria orgânica em decomposição ocorre para que o seu ciclo de desenvolvimento seja concluído. Assim como todo inseto, a ontogenia das moscas (desenvolvimento desde a sua concepção até a maturidade sexual) passa por algumas fases. Dentre estas fases estão a fase embrionária, na qual se tem a formação dos ovos e posteriormente os embriões; a fase larval, em que os indivíduos crescem e alguns órgãos são desenvolvidos; a fase pupal, onde as estruturas dos adultos são formadas e; a fase adulta, na qual a maturidade sexual é atingida. Quando um inseto tem um ciclo de vida caracterizado pelas fases de ovo, larva, pupa e adulto, pode-se dizer que ele realiza “metamorfose completa”, ou seja, que ele passa por uma “transformação” completa das características físicas desde a fase juvenil até a fase adulta.

 

Contudo, cada vez que este ciclo de desenvolvimento se completa, uma nova geração do inseto é liberado no ambiente. E, para cada espécie de inseto, estas fases de desenvolvimento tem um período de duração. Por exemplo, uma cigarra tem uma geração a cada 17 anos, enquanto Mosca domestica tem uma, em média, a cada 10 dias. Sabendo disso, é possível calcular o voltinismo de cada espécie, ou seja, o número de gerações liberadas no ambiente por ano. Uma espécie univoltina tem uma geração por ano, uma espécie multivoltina pode ter muitas gerações por ano.

 

No entanto, o voltinismo pode ser alterado quando sob efeito de alguns fatores ambientais, como por exemplo, a disponibilidade de alimento (tanto em qualidade quanto em quantidade), a competição entre indivíduos (por alimento e espaço) e por fatores climáticos, os quais se alteram durante as estações do ano (como temperatura ambiental, umidade relativa e fotoperíodo).

 


Um estudo realizado em Porto Alegre (RS) envolvendo as influências sazonais sobre o desenvolvimento de pupas de Mosca domestica (Torres et al., 2002), analisou o efeito de temperatura e da umidade relativa do ar em cada uma das estações do ano. Os resultados mostram uma baixa oscilação da umidade durante as estações, variando dentro de limites considerados como ótimos para o desenvolvimento das moscas, exercendo assim pouca influência sobre o seu desenvolvimento. Já a temperatura ambiental apresentou maior oscilação entre as estações, mostrando que quando em temperaturas mais baixas há um aumento no tempo de evolução das fases (em dias). Outros estudos mostraram resultados semelhantes, nos quais a taxa de desenvolvimento de pupas era menor em temperaturas próximas de 13ºC, maior entre 17 e 31ºC, voltando a diminuir se excedia esta faixa.

 

 

 

A primavera é a estação de retomada das temperaturas mais quentes, após a passagem do inverno, o que significa que o ciclo de desenvolvimento das moscas é acelerado, o número de gerações liberadas aumenta e o reflexo disso é uma maior abundância de moscas circulando no ambiente.


No Brasil, de uma forma geral, é na primavera que se tem uma concentração dos fatores ótimos para envolvendo o ciclo de vida das moscas: inicia o período de temperaturas e umidade mais elevadas; tem-se uma alteração do fotoperíodo, o qual torna os dias mais longos (o que favorece o desenvolvimento); além de ser a época que coincide com a estação de diversos tipos de frutas e verduras, aumentando a disponibilidade de matéria orgânica no ambiente, principalmente nas zonas rurais e periurbanas.


Mudanças climáticas:
Que o clima está mudando (e rápido) não é novidade, resultado dos “gases de efeito estufa” produzidos principalmente pela atividade humana. As previsões sobre o aquecimento para os próximos anos variam entre os estudos e as metodologias usadas, mas a maioria sugere de 1,5°C a 5°C até 2080. Infelizmente, estas previsões indicam profundas alterações na riqueza de espécies do planeta, com até 37% dos organismos em risco de extinção até 2050. Em contrapartida, dentre outras consequências, são previstos surtos de pragas de insetos e de doenças transmitidas por eles, já que muitos deles são termofílicos e podem aumentar em abundância.


São preocupantes as previsões de aumento populacional de algumas espécies de mosca à medida que as temperaturas vão aumentando. Como exemplo desta preocupação tem-se a estimativa de emergência de adultos: futuramente, acredita-se que até 10 milhões de moscas poderão emergir de apenas 1 ha de lixo doméstico (Goulson et al., 2005), isso porque a abundância de alimentos fornecidos combinado com o aumento das temperaturas promove a rápida proliferação de muitas populações durante grande parte do ano.


Muitas moscas particularmente espécies de Família Muscidae são termofílicos, ou seja, são beneficiados pelo calor, dentre elas Mosca domestica. Uma característica notável desta espécie é sua propensão a flutuações populacionais muito rápidas, muitas vezes com números de adultos aumentando em até duas ordens de magnitude em poucos dias. Esses surtos populacionais poderão causar, além do incômodo, surtos locais de doenças com grande impacto na saúde pública.

 

Referência bibliográfica:
DEP.ENTOMOLOGIA. UFV: http://www.insecta.ufv.br/Entomologia/ent/disciplina/ban%20160/AULAT/aula7/desenvolvimento.html.
Acesso em 28/10/2022.
FIOCRUZ. Moscas. http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/moscas.htm. Acesso em 28/10/2022.
GOULSON, D.; DERWENT, L.C.; HANLEY, M.E.; DUNN, D.W. & ABOLINS, S.R. 2005. Predicting calyptrate fly populations from the weather, and probable consequences of climate change. Journal of Applied Ecology. 42, 795–804.
RAFAEL, J.A.; MELO, G.A.R.; CARVALHO, C.J.B.; CASARI, S.A.; CONSTANTINO, R. (2012). Insetos do Brasil: Diversidade e Taxonomia.
Ribeirão Preto: Holos Editora.
TORRES J.R.; OLIVEIRA, C.M.B. & WALD, V.B. 2002. Influência Sazonal sobre os períodos de pré-pupa e de pupa de Musca domestica, na região de Porto Alegre, RS. Acta Scientiae Veterinariae. 30: 37- 42.
Nota: O conteúdo deste informativo técnico só pode ser reproduzido por inteiro, sem nenhuma alteração, com o devido crédito.

 

FONTE: INFORMATIVO TÉCNICO: IT.023/22 Empresa CMCONSULAB – Responsavel Técnica: Dra. CRISTIANE MATAVELLI